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by Pele!
Tiramos os ingleses do caminho"
Bem que poderia ter sido Brasil x País de Gales o
jogo que marcou minha estréia, aos 17 anos,
numa Copa do Mundo, a de 58, na Suécia. Ou
Brasil x Uruguai, na de 70, quando vingamos a
injusta derrota de Zizinho, Ademir e Barbosa na
de 50. Eu tinha 10 anos e sofri ao ver meu pai
chorando.
Bem que poderia Ter sido Brasil x Itália, o jogo
que marcou a minha despedida, aos 30 anos, nas
disputas de Copas do Mundo. Entretanto, o meu
jogo inesquecível em Mundiais foi contra a
Inglaterra, nossa segunda adversária ainda na
primeira fase da Copa do México, em 70.
A dramática vitória por 1 a 0 foi de grande importância para chegarmos à decisão e,
consequentemente, ao tri. Aquela partida, segundo a imprensa internacional, seria uma
final antecipada do Mundial. Estariam em campo os campeões de 58 e 62 é a campeão
de 66.
Os jornalistas previam que o vencedor certamente conquistaria o título e teria como
adversário a Alemanha ou a Itália. Uma derrota não seria o fim de um sonho, mas a
vitória, em termos de composição de tabela, facilitaria a nossa caminhada.
Terminando a fase inicial em primeiro lugar, permaneceríamos em Guadalajara, contando
com o apoio da torcida. E ainda enfrentaríamos a boa mas inexperiente seleção
peruana, muito bem treinada por Didi. O segundo classificado teria de se descolar até
Leon e enfrentaria a forte seleção alemã. Resultado: com a vitória sobre a Inglaterra,
enfrentamos o Peru (4 a 2) e eles jogaram contra a Alemanha. E perderam por 3 a 2.
Na semana que antecedeu o jogo com os ingleses não deixei transparecer, mas estava
preocupado. Eu tinha motivos para querer vencer. Nunca havia enfrentado a Inglaterra
numa Copa: na Suécia e no Chile não joguei por causa de lesões. Veio o Mundial de 66,
na Inglaterra, e perdi outra oportunidade de enfrentar os rivais.
Em 70, no México, outra coisa que me preocupava era o problema de Tostão, que,
vítima de descolamento de retina em 69, sofrera forte derrame no mesmo olho, o
esquerdo, logo no começo da competição. Eu me perguntava: será que Tostão, o meu
melhor parceiro de área em seleção brasileira, não terá receio de escorar uma bola de
cabeça?
O primeiro tempo foi como um jogo de xadrez, de estudos. Tanto nós quando eles
sabíamos que quem sofresse um gol dificilmente conseguiria reagir. Nossa tática seria
surpreendê-la nos contra-ataques. O que quase aconteceu aos dez minutos, quando
Jairzinho entrou em diagonal pela direita e cruzou para a área. Eu estava entre a marca
do pênalti e a linha da pequena área, subi e testei com força para baixo, no canto
esquerdo. Banks, que estava no meio do gol, num vôo espetacular espalmou para
escanteio. Para mim, aquela foi a mais perfeita defesa da história das Copas.
No segundo tempo, os ingleses ficaram na defesa, dando a impressão de que jogariam
para o empate. Até que aos 15 minutos Tostão proporcionou um lance antológico.
Enfiou a bola entre as pernas de um zagueiro, rodopiou sobre ela, tirando dois
adversários da jogada, e, acossado por Bobby Moore, cruzou à meia altura. Só tive o
trabalho de dominar com o pé direito, e cercado de três adversários, rolar mansamente
para Jair chutar e fazer o gol da nossa vitória.
A Inglaterra, que já se contentava com o empate, trocou a forte marcação pelo jogo
ofensivo. Alf Ramsey, o técnico inglês, substituiu o experiente Bobby Charlton por Bell,
e Lee, por Astle, que tinha como ponto forte as finalizações. Nos minutos finais, em
três oportunidades eles estiveram próximos do empate. Numa delas com o jovem Astle.
Sozinho diante de Félix, ele chutou por cima. Depois do jogo, Bobby Moore trocou
camisas comigo e disse:
- Fizemos o que nosso técnico pediu: "Não deixem o Pelé chutar". Ele só não pediu para
que não deixássemos você dar um passe...
Tiramos os ingleses do caminho"
Bem que poderia ter sido Brasil x País de Gales o
jogo que marcou minha estréia, aos 17 anos,
numa Copa do Mundo, a de 58, na Suécia. Ou
Brasil x Uruguai, na de 70, quando vingamos a
injusta derrota de Zizinho, Ademir e Barbosa na
de 50. Eu tinha 10 anos e sofri ao ver meu pai
chorando.
Bem que poderia Ter sido Brasil x Itália, o jogo
que marcou a minha despedida, aos 30 anos, nas
disputas de Copas do Mundo. Entretanto, o meu
jogo inesquecível em Mundiais foi contra a
Inglaterra, nossa segunda adversária ainda na
primeira fase da Copa do México, em 70.
A dramática vitória por 1 a 0 foi de grande importância para chegarmos à decisão e,
consequentemente, ao tri. Aquela partida, segundo a imprensa internacional, seria uma
final antecipada do Mundial. Estariam em campo os campeões de 58 e 62 é a campeão
de 66.
Os jornalistas previam que o vencedor certamente conquistaria o título e teria como
adversário a Alemanha ou a Itália. Uma derrota não seria o fim de um sonho, mas a
vitória, em termos de composição de tabela, facilitaria a nossa caminhada.
Terminando a fase inicial em primeiro lugar, permaneceríamos em Guadalajara, contando
com o apoio da torcida. E ainda enfrentaríamos a boa mas inexperiente seleção
peruana, muito bem treinada por Didi. O segundo classificado teria de se descolar até
Leon e enfrentaria a forte seleção alemã. Resultado: com a vitória sobre a Inglaterra,
enfrentamos o Peru (4 a 2) e eles jogaram contra a Alemanha. E perderam por 3 a 2.
Na semana que antecedeu o jogo com os ingleses não deixei transparecer, mas estava
preocupado. Eu tinha motivos para querer vencer. Nunca havia enfrentado a Inglaterra
numa Copa: na Suécia e no Chile não joguei por causa de lesões. Veio o Mundial de 66,
na Inglaterra, e perdi outra oportunidade de enfrentar os rivais.
Em 70, no México, outra coisa que me preocupava era o problema de Tostão, que,
vítima de descolamento de retina em 69, sofrera forte derrame no mesmo olho, o
esquerdo, logo no começo da competição. Eu me perguntava: será que Tostão, o meu
melhor parceiro de área em seleção brasileira, não terá receio de escorar uma bola de
cabeça?
O primeiro tempo foi como um jogo de xadrez, de estudos. Tanto nós quando eles
sabíamos que quem sofresse um gol dificilmente conseguiria reagir. Nossa tática seria
surpreendê-la nos contra-ataques. O que quase aconteceu aos dez minutos, quando
Jairzinho entrou em diagonal pela direita e cruzou para a área. Eu estava entre a marca
do pênalti e a linha da pequena área, subi e testei com força para baixo, no canto
esquerdo. Banks, que estava no meio do gol, num vôo espetacular espalmou para
escanteio. Para mim, aquela foi a mais perfeita defesa da história das Copas.
No segundo tempo, os ingleses ficaram na defesa, dando a impressão de que jogariam
para o empate. Até que aos 15 minutos Tostão proporcionou um lance antológico.
Enfiou a bola entre as pernas de um zagueiro, rodopiou sobre ela, tirando dois
adversários da jogada, e, acossado por Bobby Moore, cruzou à meia altura. Só tive o
trabalho de dominar com o pé direito, e cercado de três adversários, rolar mansamente
para Jair chutar e fazer o gol da nossa vitória.
A Inglaterra, que já se contentava com o empate, trocou a forte marcação pelo jogo
ofensivo. Alf Ramsey, o técnico inglês, substituiu o experiente Bobby Charlton por Bell,
e Lee, por Astle, que tinha como ponto forte as finalizações. Nos minutos finais, em
três oportunidades eles estiveram próximos do empate. Numa delas com o jovem Astle.
Sozinho diante de Félix, ele chutou por cima. Depois do jogo, Bobby Moore trocou
camisas comigo e disse:
- Fizemos o que nosso técnico pediu: "Não deixem o Pelé chutar". Ele só não pediu para
que não deixássemos você dar um passe...